O golem de praga

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O golem de praga

A palavra golem na Bíblia serve para se referir a um embrião ou substância incompleta: o Salmo 139:16 usa a palavra gal'mi, significando "minha substância ainda informe".
As primeiras histórias de golems são mais antigas que o judaísmo. Adão é descrito no Talmud (Tratado Sanhedrin 38b) inicialmente criado como um golem quando seu pó estava "misturado num pedaço sem forma".
Como Adão, todos os golems são criados a partir da lama. Eles eram criações de pessoas santas e muito próximas de Deus. Uma pessoa santa era uma pessoa que se esforçava para se aproximar de Deus, e por essa luta consegue um pouco da sabedoria e poder divinos. Um desses poderes é a criação da vida. Por mais santa que a pessoa fosse, no entanto, a sua criação sempre seria apenas uma sombra de qualquer criação de Deus.
Desde cedo se desenvolveu a noção de que a principal deficiência do golem era a sua incapacidade em falar. No Sanhedrin 65b, é descrito como Raba criou um golem usando o Sefer Yetzirah. Ele enviou o golem para Rav Zeira, que falou com o golem mas ele não respondeu. Disse Rav Zeira:

 "Vejo que você foi criado por um dos nossos colegas; volte ao pó". 


Ter um golem como servo era considerado como o mais elevado símbolo de sabedoria e santidade, e existem muitos contos de golems ligados a proeminentes rabinos através da Idade Média.
Outros atributos dos golems foram sendo adicionados através dos tempos. Em vários contos, o golem tem escritas palavras mágicas ou religiosas que o tornam animado. Escrever um dos Nomes de Deus na sua testa, num papel colado em sua fronte ou numa placa de argila embaixo de sua língua, ou ainda escrever a palavra Anmauth (אמת, "verdade" em hebraico, lê-se Emet) na sua testa, são exemplos de algumas dessas fórmulas de animação do golem. Ao apagar AN de anmauth (da direita para a esquerda, dado que é assim escrito o hebraico), formando Mauth (מת, "morto" em hebraico, lê-se Met), o golem era desfeito.


O Golem de Praga

A mais famosa narrativa com um golem, envolve o rabino Judá Loew ben Betzalel, também conhecido como o Maharal, de Praga, durante o século XVI. Diz-se que ele teria criado um golem para defender o gueto de Josefov em Praga contra ataques anti-semitas. A primeira publicação da história do golem apareceu em 1847 em uma coleção de contos judaicos intitulada Galerie der Sippurim, publicada por Wolf Pascheles, de Praga.
Dependendo da versão da lenda, os judeus em Praga foram ou expulsos ou mortos sob o governo de Rudolf II, imperador do Sacro Império Romano. Para proteger a comunidade judaica, o rabino construiu o golem de barro nas margens do rio Moldava.
Seguindo rituais específicos, o rabino fez com que ele ganhasse vida recitando um encanto especial em hebreu e escrevendo na sua testa a palavra Anmauth, que em hebraico significa "verdade". O golem deveria obedecer ao rabino, ajudando e protegendo o gueto judaico.
O golem foi chamado de Josef e era conhecido também como Yossele. Dizia-se que ele poderia tornar-se invisível e chamar os espíritos dos mortos. O único cuidado necessário com o golem, era que ele não poderia estar vivo no dia do Sabbath (sábado). O rabino Loew desativava o golem nas noites de sexta-feira, removendo o shem (inscrições de formam qualquer um dos nomes de Deus) antes do Sabbath começar, de modo a deixá-lo descansar no sábado. Durante o dia, o rabino escondia o golem no sótão da Sinagoga Velha Nova.

Em uma sexta-feira à noite, porém,o rabino Loew esqueceu de remover o Shem, e temia que o golem iria profanar o sábado. Uma história diferente fala que o golem que se apaixonou e, quando rejeitado, tornou-se o monstro violento visto na maioria dos relatos. Em algumas versões, o golem se enfureceu e saiu matando quem encontrasse pela frente.

O rabino então conseguiu puxar o shem de sua boca e imobilizá-lo na frente da sinagoga, após isso, destruiu o golem apagando a primeira parte da palavra Anmauth que formaria a palavra Mauth que significa "morto" em hebraico.
O corpo do golem foi armazenado na no sótão da Sinagoga Velha Nova, onde ele seria retornado à vida novamente, se necessário. Segundo a lenda, o corpo do golem do rabino Loew ainda encontra-se no sótão da sinagoga. Quando o sótão foi renovado em 1883, nenhuma evidência do golem foi encontrada. Algumas versões da história conta que o golem foi roubado da genizá e sepultado em um cemitério no distrito de Zizkov em Praga, onde a torre de Televisão Žižkov está agora. Uma lenda recente fala sobre um agente nazista subir ao sótão da sinagoga durante a Segunda Guerra Mundial e tentar esfaquear o golem, mas ele acabou sendo morto. Uma equipe de filmagem que visitou e filmou o sótão em 1984 não encontrou nenhuma evidência também. O sótão não é aberto ao público em geral.

Alguns judeus estritamente ortodoxos acreditam que o Maharal chegou realmente a criar um golem. O rabino Menachem Mendel Schneerson (o último Rebe de Lubavitch) escreveu que seu sogro, o rabino Yossef Yitschac Schneersohn, disse a ele que ele viu os restos do golem no sótão da sinagoga. O rabino Chaim Noach Levin também escreveu em suas notas sobre Megillas Yuchsin que ele ouviu diretamente do rabino Yosef Halevi Shaul, o presidente do tribunal rabínico de Lemberg, que quando ele quis ir ver os restos do Golem, o sacristão da Sinagoga Velha Nova disse que o rabino Yechezkel Landau tinha aconselhado a não ir até o sótão.

A existência de um golem na maioria das histórias mostrava algo bom, mas com problemas. Embora não fosse inteligente, o golem podia fazer simples tarefas repetidamente. O problema era controlá-lo e fazê-lo parar.


Algumas curiosidades

Na Idade Média, surgiu a crença na possibilidade de infundir vida em uma figura de ser humano de barro ou madeira, essa figura foi denominada "golem" por escritores do século XVIII. O golem poderia crescer em tamanho, e poderia levar qualquer mensagem ou obedecer mecanicamente qualquer ordem de seu mestre. Era suposto ser criado com a ajuda do "Sefer Yezirah", isto é, por uma combinação de letras que formam uma "Shem". O Shem era escrito em um pedaço de papel e inserido seja na boca ou na testa do golem, trazendo-a assim à vida. Solomon ibn Gabirol é dito ter criado uma serva por este meio. O rei, informado disto, quis puni-lo, mas Ibn Gabirol mostrou que sua criatura não era um ser real, restaurando cada uma de suas partes à sua forma original.

Toda a lenda de golens é de alguma forma um reflexo das lendas medievais sobre Virgílio, que foi creditado com o poder de fazer uma estátua mover e falar e fazer a sua vontade.

Elijah de Chelm, em meados do século XVI, foi a primeira pessoa creditada por ter feito um golem com um Shem, razão pela qual ele era conhecido como "Baal Shem". Diz-se que ele era um ser grande e monstruoso (semelhante ao Frankenstein), e que o rabino temia que pudesse destruir o mundo.

Há alguns elementos menores na lenda do Golem de Praga que são de interesse. Um deles, é que não foi dado ao golem o dom da fala, para que ele pudesse ter uma alma. Outro é que Josef, o golem, se apaixonou pela bela filha do rabino Loew.

Alguma outra lenda diz, que centenas de anos mais tarde, um rapaz trouxe o golem de volta à vida. Por algum tipo de erro, o golem foi crescendo e ficando cada vez maior, de modo que o jovem estudante puxou o shem para fora novamente, mas infelizmente ele morreu sob os destroços do golem.

O imperador de Habsburgo, Rudolph II, ficou fascinado com o conhecimento arcano, tanto que ele transferiu a sua residência para Praga, que na época era conhecida como um centro de interesse nas artes negras da alquimia, astrologia, necromancia, Cabala e outros campos do misticismo.

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